O 'shanka prakshálana' é uma formidável técnica de desintoxicação e  purificação do organismo, que consiste em fazer uma auto-lavagem  completa do tracto digestivo e intestinal. A técnica em si é bastante  simples: consiste em beber água levemente salgada, de PH fisiológico,  para que não seja absorvida pelo organismo. Ela é guiada através dos  aparelhos digestivo e excretor enquanto se aplica uma série de  exercícios dinâmicos. À medida que o líquido é eliminado, observa-se a  expulsão daqueles resíduos e sedimentos que normalmente se acumulam nos  intestinos. A água é expelida cada vez mais limpa e clara, até sair  totalmente transparente. Esta lavagem deve ser feita em jejum,  observando cuidadosamente as instruções mais abaixo designadas. Este  processo dura, em média, entre 90 minutos a 2 horas.
Alterna-se a ingestão de cada copo de água com a execução de uma  série completa dos exercícios descritos a seguir, de maneira a que não  haja acumulação de líquido em nenhuma parte do organismo e que este  continue em movimento. A vantagem desta técnica face à lavagem convencional do cólon, é que  esta última atinge apenas a porção final do intestino grosso, podendo  até alterar os movimentos peristálticos através da pressão excessiva  produzida pelo líquido sobre as paredes intestinais. A limpeza obtida  mediante o 'shanka prakshálana' vai desde a glote até o recto,  tonificando os tecidos e favorecendo o peristaltismo.
O fluxo de água promove uma lavagem total e profunda dos órgãos  internos. Os resultados da prática sentir-se-ão em todos os níveis do  organismo: tonificação das paredes intestinais, estímulo do  peristaltismo, hálito mais puro e fresco, pele mais limpa, melhoria do  sono, leveza, bem-estar e melhoria da disposição geral. Dada a  eficiência deste método, o ideal é fazê-lo, no máximo, quatro vezes por  ano, sendo a época mais propícia a mudança das estações.
O procedimento aqui descrito é o mais tradicional, porém, existe  ainda outra variação desta técnica, que consiste em alternar a ingestão  de água com diversas e sucessivas contracções abdominais: 'nauli kriyá',  'uddiyana bandha' ou 'agnisára dhauti'. Se quiser, poderá optar  posteriormente por esta variação, mas aconselhamos que, para começar,  experimente a série clássica, verdadeira obra de arte da engenharia  fisiológica do Yoga. 
Cuidados iniciais
Considerando que o 'shanka prakshálana' levará entre uma 1h30m e 2h,  aconselhamos que reserve para este procedimento uma manhã de domingo ou  algum dia em que disponha de bastante tempo livre. O factor decisivo  para o sucesso no 'shanka prakshálana' (e não apenas nele, mas em todas  as técnicas do Yoga) é a confiança no método. Tenha a certeza  de que esta técnica foi exaustivamente testada antes de chegar até si.  Na véspera, faça uma refeição leve e equilibrada, 5 a 6 horas antes de  deitar.
O momento ideal é pela manhã, em jejum total. Pessoas que tenham  obstipação intestinal crónica deverão tomar um laxante suave na véspera.
Aconselhamos ameixas secas ou uma colher de sopa de sementes de  linhaça deixadas de molho num copo de água desde a noite da antevéspera  do tratamento. Dedique o resto da jornada à meditação, leitura ou alguma  actividade que não demande esforço físico. Faça Yoga, mas  evite praticar 'ásanas' (exercícios físicos do Yoga). A  primeira refeição deve ser feita, no mínimo, 30 minutos após a lavagem.
Contra-indicação importante: pessoas com debilidade  geral, úlceras do estômago e duodeno, colite, cancro ou disenteria devem  abster-se de fazer este exercício. Atenção aos diabetes e hipertensão.
Os exercícios
Descreveremos agora a sequência dos quatro exercícios físicos. Se  você os achar maçantes ou fáceis demais, não deixe na mesma de os fazer,  pois cada um deles tem um efeito muito específico sobre uma parte do  aparelho digestivo ou excretor, como você perceberá na prática. Se você  não fizer assiduamente exercícios físicos, aconselhamos que repita esta  série várias vezes na véspera, para evitar as dores do day after.  Não queira modificar detalhes da execução, pense que isto não são os  'ásanas' que você conhece e está acostumado a fazer. Siga cuidadosamente  estas instruções.
Exercício 1
Em pé, com um palmo de distância entre os pés, que devem ficar  paralelos, os braços para cima, os dedos entrelaçados e as palmas  voltadas para o tecto, faça quatro flexões laterais para a esquerda,  alternando-as com outras quatro flexões para a direita. Não desloque os  quadris ao inclinar o tórax e faça a flexão mantendo o tronco alinhado  com as pernas e os braços.
Não permaneça, apenas faça o movimento coordenado com a respiração.  Ao todo, as oito flexões (quatro para cada lado) não devem levar mais do  que dez segundos. Este movimento lateral age sobre o piloro, aquela  válvula que controla a passagem entre o estômago e o duodeno, antes do  intestino delgado. A cada flexão, uma porção de água entra no tracto  intestinal.
Exercício 2
Ainda em pé, faremos agora um movimento de torção do tronco. Inicie o  movimento com os braços estendidos horizontalmente para frente. Gire o  tronco para a esquerda, levando o braço desse lado para trás e  flexionando o direito até que a mão toque a clavícula esquerda. A cabeça  acompanha essa rotação, olhando para trás. Inspirando, retorne e faça o  mesmo movimento para a direita enquanto solta o ar. Olhe para a sua mão  direita, que deve ficar bem para trás, sempre na linha horizontal. Você  fará um total de oito rotações (quatro para cada lado), mantendo sempre  os braços na linha dos ombros e as costas erectas. Estes oito  movimentos também serão feitos em cerca de dez segundos. Estas torções  levarão a água para o intestino delgado, fazendo-a circular por ele.  Coordene sempre o movimento com a respiração. Exale ao ir para os lados e  inale ao retornar. Não permaneça.
Exercício 3
Fique em decúbito frontal (de bruços) e mantenha os pés separados um  palmo, apoie-se nas pontas dos dedos dos pés e nas palmas das mãos. Os  joelhos não tocam o solo e as pernas ficam elevadas. Se for necessário,  contraia um pouco as nádegas. Agora você fará uma rotação com a cabeça e  os ombros, olhando alternadamente para trás, como se quisesse ver o  calcanhar do lado oposto àquele para o qual você está a girar: ao olhar  por cima do ombro esquerdo, tente ver o pé direito; ao olhar por cima do  ombro direito, tente ver o pé esquerdo.
Sinta o alongamento produzido pela posição na região abdominal e  procure perceber a passagem de água pelos intestinos. Faça quatro giros  para cada lado, que totalizam oito movimentos, sem permanência, em cerca  de quinze segundos. Não esqueça a respiração, sempre associada ao  movimento. Isto fará com que a água comece a entrar no intestino grosso e  circule por ele.
Exercício 4
Sente-se no chão e flexione a perna esquerda, deixando o joelho para  cima, sem passar o pé para o lado de fora da perna direita, que  permanecerá esticada. Agora gire o tronco, colocando o braço direito  entre o tórax e a coxa esquerda. Olhe por cima do ombro para trás,  inclinando um pouco o tronco e apoiando-se na mão esquerda. Sem  permanecer, inspire e torça-se para o outro lado da mesma forma. Em  quinze segundos, faça quatro torções para cada lado. Comprima bem o  baixo ventre contra a coxa a cada expiração. Os ombros devem estar na  mesma altura e a coluna bem erecta. As torções levarão a água pelo cólon  até o recto. Ao todo, esta sequência de quatro exercícios levará perto  de um minuto.
Instruções de execução
Prepare uma boa quantidade de água filtrada e fervida. Mesmo se for  utilizar água mineral, é conveniente fervê-la antes de adicionar o sal.  Tendo em conta que você vai ingerir no mínimo catorze copos, ou seja,  três litros e meio de água, prepare um pouco mais, por via das dúvidas.
Salgue a água mantendo a proporção de uma colher de sobremesa para  cada litro. Caso você ache a água demasiado salgada, reduza um pouco a  concentração de sal. Utilize sal marinho de boa qualidade. Jamais faça  este exercício com água pura, pois o seu organismo começará a absorvê-la  e você transformar-se-á num "barril ambulante".
Ingira um copo de água morna e salgada.
Faça a sequência dos quatro exercícios num minuto.
Beba outro copo e repita os exercícios.
Continue assim até ter ingerido seis copos. Se sentir que a água não  está a circular, faça a série mais algumas vezes. Se ainda assim não  funcionar, pode acontecer que a presença de gases nos intestinos esteja  bloqueando a passagem do líquido. Nesse caso, faça uma inversão:
- após o sexto copo, faça uma visita ao W.C. Na primeira evacuação saem  as fezes normais. As seguintes serão pastosas mas pouco a pouco irão  ficando cada vez mais líquidas. A água deve fluir sem parar no estômago.  Se você sente que ela não está a circular repita a série de exercícios  antes de beber mais.
Depois de evacuar a primeira vez, o ritmo do 'shanka prakshálana'  seria assim:
- Um copo de água.
 
- Uma série de exercícios.
 
- Visita ao wc.
 
- Água.
 
- Exercícios.
 
- Wc.
 
A cada novo copo haverá uma nova evacuação. Preste atenção à cor das  fezes, que ficarão cada vez mais claras.
Dependendo dos hábitos alimentares, do seu biótipo e das  características dos seus intestinos, serão necessários entre doze e  dezasseis copos até que a água expelida saia tão limpa quanto a  ingerida.
Utilize o bom senso: se você bebeu dez copos de água e ainda não  conseguiu evacuar pela primeira vez, interrompa a ingestão de água e  passe a executar apenas os exercícios, alternando-os com a execução de  alguns ciclos de 'nauli' ou 'rajas uddiyana bandha' e a permanência numa  posição invertida sobre a cabeça ou os ombros. Após a evacuação, retome  o ritmo acima descrito.
Quando começar a aparecer a água limpa, você deve interromper a  absorção, mas deve continuar a repetir os exercícios mais algumas vezes,  alternando sempre as séries com evacuações.
Se conseguiu ficar limpo, aproveite para fazer uma alimentação mais  saudável.
Gentilmente cedido por Pedro Kupfer
   © Paula Soveral