maio 15, 2010

Fado da Terra



Ó terra, eu vou cantar-te,
Tenho as mãos cheias de ti,
E agora darei parte,
Com maior ou menor arte
Daquilo que descobri.

Estes torrões que seguro,
Fui-os no campo apanhando –
São desse barro maduro
Com que se amassa o futuro
Desta vila de Redondo.

A terra é base da vida,
Sobre ela pomos os pés,
E a gente vai decidida,
Devagar ou em corrida,
Correr mundo lés a lés.

Foi da terra-mãe que vim
E tu vieste também.
A terra criou-me a mim,
E quando chegar meu fim,
Voltarei à terra-mãe.

Deita-se à terra a semente
Num gesto lento, sem pressa –
E quase magicamente
Surge a planta de repente,
E nova vida começa.

Ó terra, ouve meu pranto,
Minha voz desesperada,
De ver os que entretanto
Destroem teu verde manto,
E te trazem maltratada.

Poema de António Simões, in "Fado de Água e Outros"

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