abril 29, 2010

Não à Belo Monte.

 Somos filhos da terra cor de urucum.
Dos sons do igarapé e da força do jatobá.
Das águas do Araguaia, do Tapajós, do Iguaçu.
Somos filhos do sol de Kuaray, da lua de Jaci.
E da chuva que semeia o guaraná, a pitanga e o aipim.
Somos filhos dos mitos.
Do uirapuru e seu canto, do vento e do pranto.
Guerreiros, fortes, sábios.
Somos Ianomânis, Guaranis, Xavantes, Caiabis.
E o que somos nunca deixaremos de ser.
 
( Zeli Poa )

Vazamento de petróleo


Mancha de petróleo aparece à direita, em cinza, nesta imagemde radar.

O satélite Envisat, da Agência Espacial Européia, fotografou a mancha de óleo próximo ao Golfo do México.
Ela é resultado da explosão de uma plataforma de petróleo, que afundou perto da costa da Louisiana e Mississipi no dia 22.
A imagem de radar, preta e branca, mostra a mancha de óleo como um borrão cinza no canto direito. O delta do rio Mississipi está à esquerda.
Cerca de mil barris de petróleo estão vazando todos os dias de um cano danificado. Até a tarde do dia 27, o vazamento estava em 77 km de comprimento e 63 km de largura.
A Guarda Costeira Americana está tentando conter o vazamento e evitar que o óleo chegue à costa do Golfo, afetando o frágil ecossistema da região.

Fonte: Ecoplanet.com

Amazônia é vida. Área destruída em agosto é equivalente a metade do RJ

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou nesta quinta-feira (24) o levantamento da área desmatada na Amazônia no mês de agosto de 2009. Cerca de 500 km² da floresta amazônica foram destruídos no período, o equivalente a metade do território do Estado do Rio de Janeiro.
Os Estados do Pará e de Mato Grosso lideram o ranking de desmatamento somando 400 km² de área devastada. Em seguida aparecem Rondônia e o Amazonas com mais de 70 km² devastados. O restante ficou distribuído entre os Estados do Acre, Maranhão, Amapá, Roraima e Tocantins.
As condições do tempo ajudaram na observação dos satélites e apenas 17% da região ficou coberta por nuvens.
O Inpe destaca que em relação ao mês anterior houve uma queda de 40% na área devastada.
Comparada a agosto de 2008, a queda no desmatamento foi de 34%.
Segundo o Instituto, comparações entre meses seguidos não são totalmente precisas, pois a cobertura de nuvens em parte da região pode dificultar o real monitoramento feito pelas imagens de satélites.
O Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) identifica focos de devastação com área superior a 25 hectares. São considerados as áreas de mata totalmente destruídas e locais de degradação parcial da floresta.

Gráfico: Mapa divulgado pelo Inpe mostra pontos de desmatamento no mês de agosto. As áreas em rosa indica a região encobertaelas nuvens. Crédito: Inpe.
 
Fonte: Apolo11 - http://www.apolo11.com/meio_ambiente.php?posic=dat_20090925-170255.inc

Dia da vida


Marina Silva
SEM ÁGUA não existe vida, saúde ou desenvolvimento sustentável. Se a água for mal tratada e mal gerida, pode ser morte, doença e desigualdade social. E, a cada ano que passa, torna-se maior o complexo desafio para o homem tratar da questão da água em um cenário de industrialização, de urbanização e de mudanças climáticas.
Todos os cenários vislumbrados para o Brasil, no âmbito das mudanças climáticas, apontam para alteração do padrão de chuvas no ano. Avaliando-se o que já acontece hoje em todas as regiões do país, é de se esperar que aumentem os efeitos desastrosos desses fenômenos naturais.
Historicamente, temos tratado a água como um recurso inesgotável.
Embora vivamos em um planeta cuja superfície é ocupada por cerca de dois terços de água, esquecemos que apenas 0,09% dessa água pode ser aproveitada para consumo do homem. E há uma parte significativa que já foi poluída ou degradada pela ação humana.
O Brasil é favorecido com o maior volume de água doce do planeta. Entretanto, difundiu-se aqui, desde Pero Vaz de Caminha, a falsa ideia de abundância. É enganosa a ideia, uma vez que a distribuição é desigual e a maior parte da água está concentrada na bacia amazônica.
Como destino natural das águas de chuvas em um território, os rios, os lagos e os mares trazem em suas entranhas as marcas e os reflexos das atividades humanas. Os rios traduzem, assim, as virtudes e as mazelas de nossa relação com o meio ambiente. Viram o melhor indicador do gerenciamento e da consciência ambiental de uma sociedade. Sob essa perspectiva, há pouco a festejar e muita preocupação com o Dia Mundial da Água, celebrado hoje. Para se ter uma ideia, a maior parte do esgoto gerado nas cidades é despejado sem tratamento nos cursos d’água.
Nas últimas décadas, o Brasil avançou na criação de um aparato legal e institucional que permite gerenciar, de forma adequada, as águas do país. É um sistema que exige a participação cidadã e a consideração das diferentes situações regionais.
Com esse sistema implantado, certamente o Brasil estaria mais bem preparado para enfrentar os desafios que se avizinham. No entanto, o batalha é ainda imensa, já que a questão da água ainda não ocupa a prioridade que deveria ter para os gestores públicos.
Fizemos o Plano Nacional de Recursos Hídricos com intensa participação da sociedade. Agora precisamos enfrentar o grande desafio de implementá-lo. Saneamento básico é a prioridade, investimento obrigatório para quem deseja uma sociedade que sabe cuidar das suas águas em benefício de seus cidadãos.
Publicado na Folha de São Paulo em 22/03/2010.

Petróleo faz do Canadá novo vilão do clima


CCS significa o seguinte: eu jogo um balde de lama na sala, totalmente inútil... porque vai vir uma máquina limpar. O correto não seria não jogar o balde de lama na minha sala?

Essa cornucópia tecnológica vai nos causar nosso fim ecológico...

Credo : será quando que vão entender que não precisamos de mais energia, já que desperdiçamos horrivelmente mais da metade?


Petróleo faz do Canadá novo vilão do clima

Antes e depois: nos arredores de Fort McMurray, a bela visão da floresta boreal e de afluentes do rio Athabasca desaparece subitamente…

A van segue veloz pela rodovia 63, rumo ao norte. O asfalto perfeito da estrada canadense e a agenda apertada animam o motorista, que acelera – até a hora em que aparece o carro de polícia e manda encostar. O guarda se aproxima, avisa que o limite de velocidade foi ultrapassado, pede documentos e se retira. Mas quando retorna, minutos depois, quebra o script rotineiro: “Você é do Greenpeace, não é?”. Essa reação inusitada mostra como a polêmica e rentável exploração das areias betuminosas é um tema delicado no Canadá.

… e é substituída pelo cenário sombrio das minas de extração de betume, onde não sobrou uma única árvore

No norte de Alberta, a província do Canadá que está ganhando todo tipo de fama por abrigar o maior projeto energético do mundo, o que era para ser uma multa por excesso de velocidade se transforma em um comboio policial de três viaturas para escoltar três ambientalistas, um fotógrafo e uma jornalista. É deste jeito que entramos pelas ruelas de Fort MacKay, a pacata comunidade onde vivem, segundo a placa de madeira na entrada, exatas 273 pessoas. Há alguns trailers estacionados e playgrounds de plástico nos jardins. Celina Harpe, de 70 anos, a líder da etnia cree, acena da porta de uma casa verde, na beira do rio.

Espantalhos no lago: ideia é evitar dramas como o dos 500 patos que pousaram nas lagoas da Syncrude em 2008; só dois sobreviveram ao óleo e às toxinas
Há um mês, na véspera do encontro entre o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, e o presidente dos EUA, Barack Obama, 25 ativistas do Greenpeace entraram na mina Albian, da Shell, pararam por várias horas a produção e penduraram faixas gigantes: “Tar Sands: Climate Crime”. É um crime climático, além de causar dano a recursos naturais e à saúde das pessoas, dizem ambientalistas.

Mas a trajetória da vizinha cidade de Fort McMurray, mostra o outro lado da história. Seria só mais um local caipira do norte canadense não fosse a extração do tal do “betume”. É evidente que se trata de um centro superaquecido. A população, de 66 mil habitantes, dobrou em dez anos, e o preço das casas triplicou. Motoristas solitários dirigem aqueles jipões enormes. No pequeno aeroporto, cartazes fazem propaganda de empresas de petróleo. Tem muito trabalho naquele pedaço do mundo.

Por ali, enterrado sob a bela floresta boreal, há um enorme campo de areias petrolíferas. É uma mistura de areia, argila, água e um petróleo bruto muito pesado conhecido por betume. O problema começa em como tirar o betume do solo e como separá-lo do resto – sem mencionar que se trata de um combustível fóssil dos mais sujos.

Existem dois métodos de extração, dependendo da profundidade da jazida. Cerca de 20% dos campos estão próximos da superfície, e o betume é extraído em mineração aberta. É preciso arrancar a floresta, remexer a terra, retirar água do rio e formar imensas lagoas. No outro caso, o betume é retirado com o bombeamento de muito vapor. A extração é cara, exige alto consumo de água e de energia e o resultado final não é um petróleo de grande qualidade. Mas a questão não é essa: as jazidas de betume de Alberta são imensas.

A primeira petroleira a chegar, nos anos 60, foi a canadense Sincor. Uma década depois veio outra canadense, a Syncrude. Por muitos anos a operação ficou nisso, restrita a essas duas. Era muito caro separar o óleo da areia. Mas o preço do petróleo subiu, a tecnologia avançou e a extração do betume explodiu em Alberta. Em abril de 2008 havia 91 projetos ativos na região. A produção diária atual é de 1,3 milhão de barris e deve saltar para 3,3 milhões em 2025.

Os números da indústria são gigantescos. Em 25 anos, segundo estimativa do Instituto de Pesquisa Energética do Canadá, as areias betuminosas podem agregar US$ 1,8 trilhão ao PIB do Canadá e criar 456 mil empregos. Esse petróleo do solo já torna o país o segundo maior produtor do mundo, perdendo apenas para a Arábia Saudita. Desde 2001, o país é o maior fornecedor de petróleo aos EUA, desbancando os sauditas. No site da Syncrude há dados impressionantes: os três depósitos de petróleo de Alberta (Athabasca, Cold Lake e Peace River) poderiam suprir a necessidade energética do Canadá por 475 anos ou toda a demanda mundial por 15. O potencial pode ser cinco vezes maior que as reservas sauditas. “As areias de petróleo são uma das pedras fundamentais da economia de Alberta e do Canadá”, diz Don Thompson, presidente da Oil Sands Developers Group, entidade que reúne as petroleiras.

Acontece que o outro lado desta moeda é muito sinistro. O Canadá está na contramão de todos os esforços internacionais de reduzir os gases de efeito-estufa e combater o aquecimento global. O país assinou o Protocolo de Kyoto, mas não só não cumpriu o corte que havia prometido fazer como aumentou as suas emissões. Segundo o relatório “energy [r]evolution”, do Greenpeace-Canadá, as emissões de gases-estufa do país eram 592 milhões de toneladas em 1990 e viraram 721 milhões em 2006 – um aumento de 21,7% sobre os níveis de 1990 e de 29,1% sobre as metas do país em Kyoto. “O Canadá é um fora-da-lei internacional” diz o jornalista canadense Andrew Nikiforuk, autor do livro ” Tar Sands”. Segundo ele, cada barril de betume produz três vezes mais gases-estufa que um barril de petróleo convencional. “As ‘tar sands’ explicam porque o governo do Canadá gastou mais de US$ 6 bilhões em programas de mudança climática nos últimos 15 anos e não conseguiu cumprir nenhuma meta”, diz ele.

Nas contas da ONG Global Forest Watch Canada, os moradores da província de Alberta emitiam 71 toneladas de CO2 equivalente (uma medida padrão para os gases-estufa) per capita em 2005, ou quatro vezes a emissão do resto dos canadenses. As emissões per capita ali só perdem para as dos moradores do Qatar. A região tem 10% da população do país e responde por 32% de suas emissões.

A indústria do petróleo corre para desenvolver a tecnologia que sequestrará carbono, a chamada CCS, o que aliviaria a emissão. Alberta está investindo US$ 2 bilhões nisso. “Mas os projetos CCS não ficarão prontos em 2020, e a mudança climática está acontecendo agora”, diz, cética, Emily Rochon, “campaigner” de clima e energia do Greenpeace International.

Há outras prováveis consequências da extração das areias betuminosas que arrepiam ambientalistas. Peter Lee, diretor da Global Forest, diz que as reservas de gás natural do Canadá só dão para a extração de 29% do betume. “Serão necessárias 14 usinas nucleares para substituir o gás”, estima. “O Canadá será o único país do mundo a usar energia nuclear para produzir combustíveis fósseis” ironiza Melina Laboucan-Massimo, a “Tar Sands campaigner” do Greenpeace. “Esta atividade não é sustentável para o ar, a água, a saúde, o clima, o direito dos povos indígenas” prossegue. Segundo ela, as indústrias lançam no rio Athabasca 11 milhões de litros de efluentes com mercúrio, amônia, cobre e outros metais pesados. Há risco de contaminação dos aquíferos. Para produzir um barril de petróleo, usam três a quatro vezes a mesma quantidade de água. “Afinal, que tipo de legado estamos deixando às futuras gerações?” questiona.

Os depósitos de betume se espalham por 140 mil km2, uma área do tamanho da Flórida. Segundo o Greenpeace, o projeto inteiro mexerá numa área de floresta boreal das dimensões da Inglaterra. Só se tem ideia da proporção do estrago sobrevoando a área. O hidroavião decola, e os primeiros minutos são de surpresa frente ao belo panorama da floresta. Ali ainda vivem ursos e alces. O grande Athabasca faz suas curvas, pinheiros altos em cada margem. A floresta abraça Fort McMurray. E, de repente, some.

Basta o avião superar os limites de Fort McMurray para que as árvores desapareçam de uma só vez. É uma imagem horripilante. O que se vê é um cenário de “Mad Max”, só que não é ficção. O mundo parece ter perdido a cor, só há tons de cinza e negro, enormes lagos escuros de águas paradas, canteiros de obras e um frenesi de caminhões.
Don Thompson, da associação das indústrias, diz que já foi reconstituída uma “área grande”, mas que “as árvores da floresta levam 80 anos para crescer, e as que plantamos ainda parecem grama. É preciso lembrar que esta indústria só tem 40 anos de idade”. Pode até ser, mas o que se vê hoje é desolador. A ativista canadense Maude Barlow, famosa no mundo todo pela luta pela água, chama as minas de Alberta de “Mordor”. Para quem não leu o livro e não viu o filme, Mordor é o centro sombrio do Mal no mundo imaginário de Tolkien em “O Senhor dos Anéis”.

“Tínhamos água limpa e peixes, era uma vida boa”, diz Celina Harpe, a líder cree, que vive com o marido, Edward, numa casa simples em Fort McKay. “Isto foi há 30 anos. Agora o veneno das lagoas está indo para o rio.” Ela é interrompida pelo telefonema de um vizinho, que quer saber porque a polícia está estacionada ali em frente. Celina não se intimida. De um armário junto à TV, tira fotos do tempo em que Edward curtia pele de castores no abrigo de madeira que ele mesmo construiu. Lembra do dia em que as crianças da escola se sentiram mal e tiveram que ser socorridas por ambulâncias. “Foi amônia que vazou, mas nunca nos explicaram nada nem pediram desculpa.” O cheiro de ovo podre, emissão da indústria, não dá trégua.

No aeroporto de Fort McMurray, uma loja vende um suvenir curioso: um suporte de madeira com cilindros de acrílico de conteúdo duvidoso, variando do amarelo ao negro. Vem com legenda: areia, enxofre, petróleo cru, betume. Muita gente em Alberta têm orgulho da indústria do petróleo, do trabalho e riqueza ela que gera. “A gente não quer que as pessoas fiquem desempregadas. Mas temos que batalhar por empregos verdes e pensar em como será a vida dos nossos filhos”, diz a bióloga Luana Adário, 23 anos, voluntária do Greenpeace em Manaus e que participou de uma ação da ONG nas instalações da Shell, em Alberta. Roland Woodward, líder cree em Anzac, vive à beira do lago Gregoire. Ali, o ar não cheira mal, mas ele desconfia da água. “Quando era criança as pessoas morriam de velhice, de acidente ou ‘matadas’. Agora só se morre de câncer. Até jovens morrem de câncer. É estranho.”

(Fonte: Valor Econômico/ Daniela Chiaretti, de Wood Buffalo, Canadá)

Sobre Belo Monte - Por Miriam Leitão


Por 100 quilômetros o rio Xingu vai passar a ter uma vazão mínima de água, e, às margens dessa área, há tribos, ribeirinhos, floresta. Os técnicos do Ibama escreveram que não garantiam a viabilidade ambiental da hidrelétrica de Belo Monte. Duas das maiores empreiteiras do país desistiram porque acham arriscado demais economicamente. Mas o governo diz que fará o leilão.

Há dúvidas de todos os tipos sobre a hidrelétrica: ambiental, econômico-financeira e política. Por que ignorar tantas dúvidas? Por que leiloar a mais polêmica das hidrelétricas brasileiras a seis meses das eleições com um só grupo interessado? Por que tentar forçar a formação improvisada de um novo grupo, manipulando os fundos de pensão?

A primeira vez que se pensou em fazer essa hidrelétrica foi no auge do poder do governo militar, em 1975. Nem eles, com AI-5, sem audiências públicas, com um estado maior e mais insensato; nem eles, que fizeram Balbina, tiveram coragem de levar adiante o projeto.

O Ministério Público levanta dúvidas sobre várias questões, mas principalmente não entende a pressa do governo:

— Os técnicos do Ibama escreveram que não tiveram tempo de considerar as questões levantadas nas audiências públicas, escreveram que não tinham como garantir a segurança ambiental do empreendimento, há dúvidas sobre a viabilidade econômico-financeira e mesmo assim o governo diz que fará a obra — diz o procurador da República Bruno Alexandre Gutschow, do Pará.

Há vários outros pontos que estão sendo analisados pelo Ministério Público e novas ações podem ser propostas nas próximas horas. Eles entraram com duas ações pedindo a suspensão do leilão. E a vice-procuradora-geral da República, Débora Duprat, enviou um ofício ao presidente do BNDES exigindo respostas para várias perguntas: se o banco fez estudo da viabilidade econômico-financeira do projeto; quanto pretende financiar; se pesou o custo sócio-ambiental de deslocar 50 mil pessoas.

No mês passado, o Ministério Público tinha feito essas perguntas ao BNDES, e ele admitiu que desconhece os detalhes do empreendimento. Estranhíssimo. Ele será o grande financiador, como pode desconhecer?

O governo claramente está forçando a barra diante de todas as dúvidas. Ontem, a Aneel adiou o prazo de inscrição para participar do leilão. E, sem qualquer transparência, o governo tenta montar um novo consórcio.

O Ministério Público se perguntou numa das ações propostas: como manter a biodiversidade da área impactada pela redução da vazão de água? Como manter a segurança alimentar da população da área? Como garantir a navegabilidade do rio? Dúvidas que ficaram sem respostas porque os técnicos do Ibama disseram várias vezes em seus pareceres e de forma contundente o seguinte: “A equipe mantém o entendimento de que não há elementos suficientes para atestar a viabilidade ambiental do empreendimento.”

O pesquisador Francisco Hernandez, da USP, que estudou Belo Monte, define como um “monumento fluvial” o Rio Xingu, pela sua exuberante biodiversidade. O procurador Gutschow diz que há mais espécies de peixes lá do que em toda a Europa.

Mas alguém pode considerar que tudo isso deve ser sacrificado por uma hidrelétrica que será a terceira do mundo e que vai produzir 11 mil MW. Isso é um enorme engano. A produção média mal passará de 4 mil MW, e por três ou quatro meses no ano pode ser de meros 1 mil MW pelo regime das águas do rio.

Alguém pode argumentar que a hídrica é uma energia barata. É mesmo? A obra está calculada em R$ 19 bilhões, mas o que as empreiteiras estão dizendo é que talvez chegue a R$ 30 bi. Essa incerteza é que afasta muitos competidores. Além disso, há o custo não contado dos enormes linhões atravessando a floresta e muito distantes dos centros consumidores.

Pode-se argumentar também que se não forem feitas as hidrelétricas da Amazônia, restará ao Brasil a energia fóssil vinda do carvão, ou petróleo. É mesmo? Há inúmeras outras alternativas num país como o Brasil: biomassa, eólica, solar, eficiência energética, pequenas usinas, marés. A Coppe tem protótipo de usinas de marés, há estudos mostrando que se deveria estimular a autogeração renovável de fontes alternativas pelas indústrias.

Se você concorda com a ex-ministra Dilma, para quem nenhuma dessas fontes pode ser levada a sério, em grande escala, veja os números da Europa: A Alemanha no final de 2009 tinha 25.800 MW de energia eólica; a Espanha, 19.150 MW. Em toda União Europeia, 75 mil MW. Na Dinamarca, representa 20% da energia; em Portugal, 15%. Os Estados Unidos têm 35 mil MW. Isso sem falar do enorme potencial fotovoltaico (solar) do Brasil.

O Brasil explorou intensamente seu potencial hídrico, agora ele está em local distante, de grande impacto ambiental, com custos de construção e manutenção mais altos e incertos. A tendência agora é descentralizar a geração, e produzir barragens menores que reduzam o estrago ao meio ambiente. Enfim, quem pensa que só existe barragem ou fóssil precisa urgentemente atualizar seus conceitos. 
 
Por Miriam Leitão

Carta aberta à Dilma Roussef

Prezada Exma. Sra. Ministra Dilma Roussef,

Sem o Cerrado, o aquífero Guarani morre e sem ele a agricultura morre. Não tem como mirar em uma só variável e uma só métrica, pois o problema é sistêmico e o desastre ambiental global não é causado apenas pelo aquecimento global e sim por uma série de riscos e pressões em várias frentes e por uma visão de mundo que ignora a contribuição da natureza e seus serviços para tudo existir.

O Guarani já está bem comprometido com contaminação, contas futuras que deixamos de herança para todos os netos de todos os netos. Eu não sou especialista, posso achar alguém na minha rede de contatos que possuo para detalhar mais isso, mas a situação do Cerrado e do Guarani é assustadora. Estive com um especialista em Bauru, um cientista, que falava comovido sobre o assunto. Como ele há vários, jamais ouvidos. Eles precisam ser ouvidos.

Os economistas precisam corrigir seu paradigma, porque essa ciência possui erros epistemológicos seríssimos identificados há mais de 60 anos. Os economistas acreditam que o sistema econômico é totalmente desvinculado do meio ambiente e que a economia pode ser maior que o planeta. Ou que o planeta é um subsistema da economia e que todos os processos econômicos, além de reversíveis, são neutros para o meio ambiente. Ou que os serviços ecológicos e recursos naturais, mesmo os tangíveis, como petróleo, metais e água, são desprezíveis e irrelevantes para explicar o crescimento econômico - e prevêem preço zero para eles, uma distorção de mercado que só será corrigida por uma mudança geral de valores que, mesmo entre os mais despertos, está ainda longe de acontecer. O nosso atual conjunto de valores determina que quanto mais viável economicamente for uma atividade, menos viável ambientalmente ela é. Estamos perdendo muito com isso.

Esses mitos de separação da economia (e de atividades como agricultura) e meio ambiente andam a todo vapor e a rota de colisão com a Terra, cuja resposta pode ser o fim da nossa espécie animal, segue infrene. Os ecossistemas não estão aí apenas para serem lugares de expansão agrícola e econômica, eles fornecem os 20 serviços ecológicos sem os quais não estaríamos vivos, são reguladores químicos do solo, do ar e da água, sem os quais a Terra seria uma tocha incandescente. É um equilíbrio dinâmico e vivo. Como economista de formação e atuante estou profundamente convencido da necessidade de conhecermos as demais ciências, as puras, como química, física e matemática, para depois entendermos o que podemos fazer. Precisamos inclusive discutir essa conta ambiental com a comunidade internacional, porque não há um só exemplo no mundo de desenvolvimento econômico que não tenha devastado os ecossistemas e não tenha transbordado essa destruição para além de suas fronteiras, via comércio global. Esse processo já causou a maior e mais veloz extinção da vida em massa na Terra dos últimos 65 milhões de anos. É muita ingenuidade achar que essa extinção jamais irá se voltar contra os causadores.

No futuro não haverão vencedores, posto que todos nós estamos no mesmo planeta e pertencemos a mesma espécie animal, numa teia viva onde todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos. A tarefa é árdua, parabéns pelo seu trabalho e preocupação com o futuro.

Atenciosamente,

Hugo Penteado

Comemoração em Brasília mostra o desapego com a natureza.


Em primeiro lugar, uma cidade sem ciclovias. Totalmente plana. Com um problema de trânsito gigante. Como se mais carros pudessem dar mais mobilidade e é justamente o contrário.
Em segundo lugar, algo que se espalha de Brasília para o resto do Brasil e é a filosofia do mundo: tratar a Terra como se fosse lixeira, acreditando no mito do jogar fora, embora o jogar fora não exista.


Fonte da foto: http://noticias.uol.com.br/album/100422_album.jhtm?abrefoto=13#fotoNav=25

Belo Monte vai custar R$ 44 bi, diz ambientalista

 

Valor Econômico - 28/04/2010, p. A14

Roberto Smeraldi, 50 anos, diretor da Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, diz que Belo Monte não só não tem viabilidade econômica utilizando-se os critérios convencionais, mas que se forem incorporados custos ambientais e sociais, a energia gerada pela hidrelétrica custaria mais de R$ 200 o megawatt-hora. Ele faz essa conta somando custos de engenharia, isenção fiscal e os serviços básicos para quem vive em Altamira e terá que ser realocado (cerca de 30 mil pessoas) e para os 100 mil migrantes que chegarão. O ambientalista deixa de fora do cálculo as perdas de biodiversidade e as emissões de gases-estufa, bem mais complicadas de estimar, e crava o custo de Belo Monte em R$ 44 bilhões. "O que mais preocupa é que se está colocando lá dinheiro do Tesouro, de FAT e até de FGTS" , observa.
Na visão de Smeraldi, que conhece bem a região do Xingu onde o governo quer erguer a hidrelétrica, ao investir em Belo Monte o país deixa de colocar dinheiro onde deveria - na eficiência energética e na conservação. O Brasil perde na distribuição e na geração 1/4 da energia que produz, lembra. "Está se secando a fonte para fazer investimentos viáveis. É o chamado custo de oportunidade, que é o custo de não fazer outras coisas com aquele mesmo dinheiro", diz. Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) indica que no caso do Brasil, cada R$ 1,00 investido em eficiência energética tem impacto equivalente a mais de R$ 3,00 investidos em geração de eletricidade adicional. A lógica de Smeraldi é inversa à do presidente
Lula: "Belo Monte vai na direção do apagão."
Valor: Qual é a sua posição sobre hidrelétricas?
Roberto Smeraldi: Todas as formas de geração têm uma relação custo-benefício que muda de acordo com os projetos. Não é que hidrelétrica é boa ou é ruim, ou que eólica é boa ou ruim, ou solar, ou bagaço. Todas essas fontes têm impactos e oferecem oportunidades. É preciso fazer esse balanço e ver o saldo. A nossa posição não é ideológica. Temos no Brasil casos de hidrelétricas sensacionais, como Itaipu, que é top da eficiência, um altíssimo custo-benefício em todos o sentidos. Até nas emissões ela é quase nula.
Valor: Não é este o caso de Belo Monte, não é?
Smeraldi: Belo Monte não tem viabilidade econômica, mesmo usando-se apenas os critérios convencionais. Se forem incorporados os custos ambientais e sociais, então, é péssima. Com as externalidades sociais e ambientais, o preço de Belo Monte está na faixa de R$ 200 o MW.
Valor: Como se faz essa conta?
Roberto: Somando os custos de engenharia, a usina vai para R$ 28 bilhões a R$ 29 bilhões; com a isenção fiscal, vai para R$ 36 bilhões. Se calcularmos os serviços básicos para quem vive ali, mais as 100 mil pessoas que vão chegar e as 30 mil que serão realocadas, já estamos em R$ 44 bilhões. Ainda teríamos que calcular as emissões de gases-estufa do desmatamento e a perda da biodiversidade. Se a conta for feita assim, o custo vai muito além da eólica. A energia deveria ser vendida a R$ 200. O que mais preocupa é que se está colocando lá dinheiro do Tesouro, de FAT e até de FGTS e com renúncia fiscal. Além disso, não serão feitos investimentos nas áreas de energia onde seria necessário fazer.
Valor: Por que não?
Smeraldi: Porque todo o dinheiro disponível vai para subsídios e se concentra num grande empreendimento. Está se secando a fonte para fazer investimentos viáveis. É o chamado custo de oportunidade, que é o custo de não fazer outras coisas com aquele mesmo dinheiro. Belo Monte vai na direção do apagão.
Valor: Como assim?
Smeraldi: Tira recursos de investimentos que ajudariam a prevenir o apagão. Perdemos na distribuição e na geração 1/4 daquilo que a gente produz. Estamos gerando menos do que se poderia com a atual capacidade instalada. Com a modernização das usinas (a chamada repotenciação) já instaladas se poderia aumentar em 6% a geração atual. O Banco Interamericano de Desenvolvimento fez em 2008 um grande estudo sobre o setor energético da América Latina, incluindo um ranking de eficiência de cada país. No caso do Brasil, cada R$ 1,00 investido em eficiência energética tem impacto equivalente a mais de R$ 3,00 investidos em geração de eletricidade adicional. O BID avaliou as necessidades de crescimento até 2016 e estima que o país deveria investir US$ 6,8 bilhões em eficiência, ou, para ter o mesmo resultado, US$ 21 bilhões em geração.
Valor: O que pode dizer sobre as perdas na distribuição?
Smeraldi: Não há auditoria que diga quanto se está perdendo de energia nos últimos anos no linhão de Itaipu. Mas não faz nenhum sentido ligar as térmicas a todo vapor, se neste verão todos os reservatórios estavam cheios. É um paradoxo. Além disso, os investimentos para gerar nova energia darão resultados em cinco anos, mas investimentos para evitar o desperdício dão resultado imediato. E o nosso potencial de bagaço significa três Belo Monte.
Valor: Vocês fizeram uma ação para impedir o leilão, certo?
Smeraldi: Foi a ação para a qual foi dada a liminar e que valia enquanto o leilão ocorreu. E é uma das razões pelas quais o leilão pode ter sido realizado ilegalmente.
Valor: Por quê?
Smeraldi: No site do tribunal está registrado que as partes foram notificadas a respeito da liminar às 12h25 e ela foi publicada no site às 13 h. Ou seja, era de domínio público. Mas a Aneel realizou o leilão apesar de uma decisão judicial que o impedia. O leilão ocorreu às 13h24, ocorreu sob embargo. Acho difícil que chegue a ser homologado.
Valor: Qual era o argumento da ação?
Smeraldi: A licença prévia do Ibama estabelece um reservatório de 516 km2. É este também o valor pelo qual a Agência Nacional de Águas (ANA) declarou a reserva de disponibilidade hídrica do rio Xingu. Mas o edital que convocou o leilão mudou este valor para um tamanho de reservatório 29,47% maior do que foi licenciado pelo Ibama.
Valor: O que pode acontecer?
Smeraldi: Três coisas. Nós podemos entrar com recurso contra a cassação da liminar, que foi cassada só na noite do dia 20. A outra é que esta ação terá que ser julgada no mérito também. E a terceira é que o Ministério Público abriu um inquérito para verificar essa questão do leilão ocorrendo sob embargo da Justiça.
Valor: A União diz que vai processar quem entrou com ações.
Smeraldi: Acho preocupante que a União não entenda que é obrigação, tanto do Ministério Público quanto de instituições como a nossa, a tutela de interesses difusos. Somos uma Oscip e para nós não é uma opção agir na tutela dos interesses difusos, da lisura e legalidade dos processos que dizem respeito ao meio ambiente. É uma obrigação.
Valor: O argumento da AGU é que as ações vão na direção contrária aos interesses do Brasil. Dizem que o país precisa crescer e para isso precisa de energia.
Smeraldi: Eles podem achar que é interesse do Brasil jogar dinheiro público em Belo Monte, eu posso achar que é interesse do Brasil não jogar fora a energia que já estamos produzindo. Ambas as posições são legítimas. Mas eles deveriam se pautar pela lei. Mas atacam quem promoveu as ações. Até um juiz disse que era pressionado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Esse tipo de coisa a gente não esperaria depois de 22 anos da Constituição democrática.
Valor: Belo Monte poderia ser menor?
Smeraldi: Belo Monte já foi feita menor. O problema é que sem reservatórios complementares não tem viabilidade econômica, e isso significa alagar grandes áreas. Belo Monte só terá vazão quatro meses ao ano.
Valor: E o argumento de que o Brasil precisa de energia?
Smeraldi: Este deveria ser o foco de uma política energética. Há um grande espaço para o Brasil investir em tecnologia para crescer com menos intensidade de energia por unidade de PIB gerado. Ou seja, aumentar a eficiência. Ao mesmo tempo, investir em setores menos intensivos de energia. Não vejo como o país possa crescer subsidiando a indústria do alumínio. Tem que fazer investimento em indústria no Brasil. A economia florestal, por exemplo, traz um volume de emprego muito alto e não é eletrointensiva.

Fonte: Nosso  Futuro Comum

abril 26, 2010

Olho Vivo...


Democracia e Oligarquia congregam grandes divergências em suas aparências.
Ao longo do tempo, as civilizações foram responsáveis pela criação de diferentes formas de governo. No mundo contemporâneo, principalmente no que se refere ao Ocidente, existe um grande consenso de que o regime democrático ou democracia seja a melhor e mais justa maneira de organização política já criada. Tal concepção se sustenta, principalmente, na ideia de que o sistema democrático seja mais justo e defenda os princípios de liberdade e igualdade entre os homens.

Reconhecendo a democracia como o “governo do povo”, acabamos determinando que outras formas de governo sejam menos eficientes e justas. Entre essas outras formas, a oligarquia é um dos modelos que mais se claramente distancia do regime democrático. Afinal de contas, como mesmo diz a sua acepção original, a oligarquia apresenta o “governo de poucos” ou o “governo de uma minoria”. Em muitos casos, essa minoria se confunde com as elites políticas e econômicas de um país ou território.


Apesar de aparentarem como opostos, oligarquia e democracia são regimes que podem se interpenetrar em algumas situações. Na
história do Brasil, por exemplo, vemos que na República Oligárquica a distribuição e a autonomia dos poderes – típicos em uma democracia – conviviam com artimanhas fraudulentas que preservavam os cargos políticos nas mãos de uma reduzida elite agroexportadora. Dessa forma, podemos notar a coexistência de elementos democráticos e oligárquicos em um mesmo regime.

Ao contrário do que muitos pensam, a idéia de democracia como o governo de uma maioria não nasceu na Grécia Antiga. Em Atenas, o direito ao voto era reservado a uma parcela de cidadãos que não correspondia à maioria dos moradores daquela antiga cidade. Por outro lado, também podemos hoje notar que muitas democracias são rodeadas por sérios problemas. Não raro, os representantes eleitos pelo povo, pela maioria, atuam politicamente em favor de uma abastada minoria.


Pontuando esses exemplos e análises, percebemos que democracia e oligarquia correspondem a um valor de oposição apenas no campo das teorias. Na prática, os cidadãos devem estar sempre alertas para que um governo de aparências democráticas não avilte o poder a ele concedido por ações escusas e que respondem ao anseio de um único grupo social. Afinal de contas, mais do que uma forma de governo, a democracia é uma experiência dinâmica e sempre inacabada.

Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

Fome no Mundo

 A fome assola milhões de pessoas em todo o mundo, algumas por causas naturais como a seca, as pragas, as inundações, mas a grande e esmagadora maioria por causas humanas. A ineficácia dos governos e o descaso com a população menos favorecida contribuem para a miséria, que por sua vez, é um produto originado pelo capitalismo que injustamente acumula riquezas nas mãos de poucos e falta nas mãos de muitos. 

A alta carga tributária cobrada também atrapalha os menos favorecidos que sofrem com a inflação, com os impostos e a má distribuição de renda, essa afeta principalmente os países subdesenvolvidos. A maior prova disso é o crescimento econômico de países que não modificam o processo da má distribuição de renda. O Brasil, por exemplo, não é um país pobre, mas é o oitavo mais injusto no ranking mundial.

Diante dos problemas já citados, não há como pensar num mundo melhor sem que soluções sejam tomadas, não existem formas de melhorar a realidade sem o reconhecimento do agravamento destes males. 

Marina Silva falou sobre a construção da usina de Belo Monte em entrevista ao 'Terra'

A pré-candidata à presidência do Partido Verde (PV), Marina Silva, esteve no último fim de semana e nesta segunda-feira em Washington, nos Estados Unidos, para participar das celebrações do Dia da Terra (25 de abril) e se reunir com ambientalistas e representantes do governo de Barack Obama, a fim de discutir temas relacionados a meio ambiente e mudança climática.
A senadora também se encontrou com James Cameron, diretor de Avatar, filme recorde de bilheteria da história do cinema mundial, a pedido do cineasta canadense. Durante a estada na capital americana, Marina Silva concedeu uma entrevista ao Terra e falou sobre o projeto Belo Monte, matriz energética e o envolvimento de estrangeiros nos assuntos relacionados à exploração de recursos naturais no Brasil.
Terra - A senhora apontou vários problemas com respeito à construção da usina de Belo Monte, na bacia do Rio Xingu, no Pará. A senhora é totalmente contra o projeto?
Marina Silva - As coisas não são tão simples assim. O Belo Monte é um projeto complexo que vem se arrastando há mais de 20 anos. Foi dada uma licença com denúncia de forte pressão política, inclusive o diretor do IBAMA se demitiu no processo da licença. Os mesmos problemas que foram denunciados 20 anos atrás pelos movimentos sociais, pelos índios, pelo Ministério Público, permanecem até hoje. O que defendi foi que não tivesse sido feito o leilão, que o leilão fosse suspenso até que todos os aspectos de ordem social e ambiental e da viabilidade econômica do projeto fossem devidamente tratados. Se viável, obviamente o empreendimento deve ser feito. Se não é viável, não deve ser feito. Esta é a questão que eu levantei.

Uma alternativa que vem sendo discutida é que o governo brasileiro tem uma atitude de tratar a questão energética apenas pelo lado da oferta, não faz o gerenciamento da demanda. O empreendimento de Belo Monte, no seu total, é em torno de R$ 30 bilhões. Se usarmos R$ 20 bilhões em programas de eficiência energética, podemos ter energia equivalente a mais de dois Belo Montes, sem precisar de investimentos que têm este caráter duvidoso. Só para falar de uma alternativa. Mas é óbvio que é preciso um grande investimento na parte de diversificação da matriz energética, e temos potencial para isso.
Terra - A senhora concorda com especialistas que dizem que o Brasil não explora nem metade do potencial hídrico nacional? Que outras alternativas poderiam ser exploradas?
Marina Silva - Não falo só em relação ao potencial hídrico. Estou falando de uma matriz energética diversificada. A maior oferta de energia do Brasil é de hidroeletricidade. Temos outras fontes de geração: eólica, solar e os próprios agrocombustíveis. O potencial hídrico pode até estar levantado, mas não existem projetos. Fica muito difícil ficar falando em cima do genérico. Existe potencial? Sim, mas não temos projetos. Os projetos são sempre de última hora e, mesmo os que já vêm se enrolando há longo prazo, como é o caso de Belo Monte, têm uma série de problemas que não foram resolvidos.

O grande potencial de energia do Brasil é de hidroeletricidade - 64% está na Amazônia. Mas, obviamente, a gente não pode olhar apenas pelo lado econômico. É preciso responder a todos os aspectos: ambiental, social e do ponto de vista econômico. Depois de fechar esta equação na sua totalidade é que devemos verificar empreendimento por empreendimento e uma nova metodologia de licenciamento. Não o empreendimento em si. É preciso olhar para a área de abrangência do empreendimento. Tem que olhar para a bacia hidrográfica. Sem isso, haverá um acúmulo de problemas para cada empreendimento que surgir.
Terra - O que a senhora pensa sobre a atitude de indivíduos e instituições de países que exploraram de modo predatório suas reservas naturais em nome do crescimento econômico opinarem sobre as decisões do governo brasileiro nesta área?
Marina Silva - Pessoas de boa fé existem em todos os lugares do mundo. Pessoas contra a preservação do meio ambiente há no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa, no Japão e em todos os lugares. Pessoas que têm uma visão responsável em relação ao meio ambiente, há nos Estados Unidos, no Japão, em todos os lugares do mundo. A gente não pode medir as pessoas pelos seus governos nem por suas empresas. Cada indivíduo tem o compromisso que tem, a ética que tem e as manifestam democraticamente onde vivem.

Eu vivi uma experiência, há 20 anos, em que o Chico Mendes, quando defendia sozinho a Amazônia, era acusado de ser contra o progresso, o desenvolvimento e a soberania brasileira e foi assassinado por defender suas ideias. Existiam poucas pessoas no Brasil, e fora do Brasil, que eram nossas aliadas. Lembro que quando ele (Chico Mendes) foi assassinado, não tínhamos o apoio de políticos brasileiros, mas tínhamos do vice-presidente (dos EUA) Al Gore. Então podemos encontrar pessoas comprometidas em todos os lugares do mundo.
Terra - O diretor de cinema James Cameron é uma dessas pessoas comprometidas com as questões de meio ambiente?
Marina Silva - Com certeza os temas que James Cameron está levantando são relevantes. O filme que ele fez (
Avatar) busca sensibilizar as pessoas para algo que muitas vezes elas não veem. Elas fazem apenas um cálculo pragmático e, às vezes, oportunista das questões. É muito mais fácil ficar do lado de quem faz a pressão pelo dinheiro e pelo poder do que dar voz e visibilidade para aqueles que historicamente são invisíveis e são explorados em seus recursos e destituídos na sua forma de viver, como os índios e as populações tradicionais.
 

abril 25, 2010

O desconcerto do Mundo

Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o mundo concertado.

Luís Vaz de Camões

A Lei Maior

A Lei Maior não discrimina, não segrega, apenas é lógica e coerente aos princípios evolutivos que regem o universo, que é a Lei do Amor. 
Roberto Bastos
Psicoterapeuta
 

Poluição

abril 24, 2010

Belo Monte de equívocos


A insistência do governo de levar adiante o projeto de Belo Monte mostra que a lógica técnica e econômica cedeu o lugar à obsessão. Com graves consequências que não se restringem às populações indígenas e comunidades ribeirinhas do rio Xingu. Elas serão também sentidas nos bolsos de todos nós, consumidores de eletricidade.

O espectro do "apagão" parece ser a única justificativa para a construção dessa usina. Entretanto, ela também aponta o modelo de desenvolvimento que se quer dar à região amazônica e ao nosso país. A energia a ser produzida pela usina não será utilizada para aliviar a pobreza e incorporar uma parcela da população que sempre esteve excluída das benesses do consumo. Ela será destinada a satisfazer a demanda de grandes grupos mínero-metalúrgicos na perpetuação do modelo que se apropria dos recursos naturais e das águas
dos rios da região para produzir bens de baixo valor agregado e de alto conteúdo energético para exportação. A isso chamam de desenvolvimento. E a que custos? As tentativas de reduzir as consequências socioambientais da obra, com a operação a fio d'água, isto é, sem um grande reservatório capaz de regular a
vazão, apenas trouxeram mais problemas e proporcionaram uma sucessão de equívocos, técnicos e econômicos. Belo Monte foi superdimensionada. A capacidade de 11,2 mil MW só estará disponível durante três meses do ano. Nos meses de setembro e outubro, quando o rio Xingu fica naturalmente mais seco, a capacidade instalada aproveitável da hidrelétrica não será maior do que 1.088 MW médios.
O resultado é que a energia terá um preço elevado. A definição pelo governo do preço-teto em R$ 83 por MWh, além de já ter afugentado potenciais investidores (Odebrecht e Camargo Corrêa, que constituíam um consórcio, já abandonaram a disputa do leilão), somente será assegurada por meio do aporte do Tesouro Nacional, isto é, de nós, contribuintes.
 

Outro equívoco: o custo do empreendimento passou dos iniciais R$ 4,5 bilhões para os atuais R$ 19 bilhões. As empresas envolvidas com as obras (empreiteiras e fabricantes de equipamentos), por sua vez, estimam um custo mínimo de R$ 30 bilhões. O BNDES se dispõe a financiar 80% do custo. Ao mesmo tempo, o banco espera uma nova capitalização do Tesouro para assegurar essa participação. Assiste-se a um exercício de engenharia financeira para viabilizar a obra com toda sorte de renúncia fiscal e isenções que trarão aumento desproporcional da dívida pública. 

Apesar de todas as críticas, levantadas de forma sistemática por um painel de especialistas constituído por diversos cientistas e professores de importantes universidades do país (disponível em *http://tinyurl.com/ykjplsu *), a intenção de manter o leilão para a licitação na próxima semana demonstra que são apenas os interesses eleitoreiros que prevalecem.
É preciso reabrir o debate do modelo de desenvolvimento que queremos para o nosso país. Está na hora de rever a concepção dos projetos hidrelétricos na Amazônia. E abandonar aqueles que levam à destruição de seus rios e de culturas de seus habitantes.


 CÉLIO BERMANN*, 57, é professor associado do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo.

abril 22, 2010

Uma substância encontrada no leite materno pode acabar com o câncer


Uma substância encontrada no leite materno pode acabar com o câncer, de acordo com um novo estudo feito pela Universidade de Lund e pela Universidade de Gothemburg, na Suécia.
A substância foi batizada de forma poética de HAMLET (sigla que, em inglês, significa Substância Letal para Células com Tumor do Leite Materno) e foi descoberta há vários anos atrás, mas só agora foi possível testá-la em humanos.
Pacientes que tinham câncer de bexiga foram tratados com a substância e conseguiram expelir as células cancerosas pela urina. Esses testes deixaram os médicos esperançosos de que o leite materno poderia virar a base para tratamentos contra o câncer no futuro.
A descoberta do Hamlet aconteceu por acidente, quando médicos estudavam bactérias que poderiam estar presentes no leite. Mas ainda não foi provado que a substância é formada espontaneamente no leite.
Testes de laboratório mostraram que o Hamlet pode matar 40 tipos diferentes de câncer. Agora os pesquisadores estão tentando desenvolver formas para transportar a substância até as células cancerosas.
Fonte: Science Daily

abril 21, 2010

Temperatura do planeta foi recorde em março

 
As temperaturas globais – estimuladas pelo fenômeno El Niño – alcançaram em março um nível recorde, indicou nesta quinta-feira o Instituto Oceânico e Atmosférico americano (NOAA) em um comunicado.“Condições mais quentes que o normal dominaram a terra, especialmente no norte da África, no sul da Ásia e no Canadá”, afirmou o NOAA.
A temperatura média da superfície terrestre – que combina a da terra e a do mar – para março de 2010 foi a mais quente já registrada: 13,5 graus centígrados, o que equivale a 0,77 graus a mais que a média do século XX, 12,7 graus, indicou a instituição.
A temperatura média dos oceanos foi a mais quente para qualquer mês de março desde o início do registro, em 1880, enquanto que a temperatura global da superfície terrestre foi a quarta maior para março, garantiu o NOAA, citando uma análise do National Climate Data Center. Acrescentou ainda que o período janeiro-março foi o mais quente registrado no planeta.
O NOAA destacou que ainda que o fenômeno do El Niño, que se caracteriza por temperaturas maiores que o normal em águas das regiões central e oriental do Pacífico tropical, “contribuiu de forma significativa para o aquecimento no cinturão tropical e na temperatura geral dos oceanos”.
Espera-se que o El Niño mantenha sua influência no hemisfério Norte “pelo menos ao longo da primavera” boreal, acrescentou o NOAA.

(Fonte: G1)

Cientistas não sabem onde está o calor do aquecimento global

 As ferramentas de observação atualmente disponíveis não conseguem explicar aproximadamente metade do calor que se acredita estar se acumulando na Terra nos últimos anos.
Enquanto os instrumentos dos satélites artificiais indicam que os gases de efeito de estufa continuam a aprisionar cada vez mais energia solar, ou calor, desde 2003 os cientistas têm sido incapazes de determinar para onde está indo a maior parte desse calor.
Isso leva a uma de duas possibilidades: ou as observações dos satélites estão erradas ou grandes quantidades de calor estão indo para regiões que ainda não são adequadamente monitoradas e medidas, como as partes mais profundas dos oceanos.
Para agravar o problema, as temperaturas da superfície da Terra apresentaram uma forte estabilização nos últimos anos. Contudo, o derretimento das geleiras e do gelo do Ártico, juntamente com a elevação dos níveis do mar, indicam que o calor continua tendo efeitos profundos no planeta.
Calor perdido – Cientistas do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica (NCAR), nos Estados Unidos, advertem que os sensores de satélites, as boias oceânicas e os outros instrumentos são inadequados para rastrear esse calor “perdido”, que pode estar se acumulando nas profundezas dos oceanos ou em qualquer outro lugar do sistema climático.
“O calor vai voltar a nos assombrar mais cedo ou mais tarde”, diz Kevin Trenberth, um dos autores do artigo que foi publicado na revista Science.
“O alívio que nós tivemos na elevação das temperaturas nos últimos anos não vai continuar. É fundamental rastrear o acúmulo de energia em nosso sistema climático para que possamos entender o que está acontecendo e prever o clima futuro,” afirma ele.

Fluxo de energia
– Trenberth e seu colega John Fasullo sugerem que o início rápido do El Niño no ano passado – o evento periódico marcado pela elevação da temperatura superficial do Oceano Pacífico tropical – pode ser uma maneira em que a energia “perdida” tem reaparecido.
Outra fonte de informação, mas agindo no sentido oposto, são os invernos inesperadamente frios ao longo dos Estados Unidos, Europa e Ásia, que tem marcado os últimos anos e que as previsões indicam deverão perdurar nos próximos.
Eles afirmam que é imperativo medir melhor o fluxo de energia através do sistema climático da Terra.
Por exemplo, qualquer plano de geoengenharia que queira alterar artificialmente o clima do mundo para combater o aquecimento global pode ter consequências inesperadas, que podem ser difíceis de analisar a menos que os cientistas possam monitorar o calor ao redor do globo.
Calor acumulado nos oceanos – Os dados dos instrumentos dos satélites mostram um crescente desequilíbrio entre a energia que entra na atmosfera a partir do Sol e a energia liberada a partir da superfície da Terra. Este desequilíbrio é a fonte de longo prazo do aquecimento global.
Mas rastrear a quantidade crescente de calor na Terra é muito mais complicado do que medir as temperaturas na superfície do planeta.
Os oceanos absorvem cerca de 90 por cento da energia solar capturada pelos gases de efeito estufa. O restante se divide entre as geleiras, os mares congelados, a superfície não coberta pelo mar e a atmosfera – ou seja, somente uma pequena fração do calor capturado aquece o ar da atmosfera.
E, apesar das medições dos satélites, o calor medido nos oceanos, até uma profundidade de cerca de 1.000 metros, está constante há anos.
Possibilidades de erro – Embora seja difícil quantificar a quantidade de energia solar que chega à Terra com precisão, Trenberth e Fasullo estimam que, com base em dados de satélites, a quantidade de energia acumulada parece ser de cerca de 1 watt por metro quadrado, enquanto os instrumentos oceânicos indicam um acúmulo de cerca de 0,5 watt por metro quadrado.
Isso significa que aproximadamente metade da quantidade total de calor que se acredita ser aprisionado pelos gases de efeito estufa está “desaparecido.”
Há muitas possibilidades de erro, e esse “calor perdido” pode ser uma ilusão, dizem os autores.
O não fechamento do balanço global de energia pode ser resultado de imprecisões nas medições por satélites, imprecisões nas medições feitas pelos sensores de superfície ou mesmo do processamento incorreto dos dados, dizem os autores.
Corrigir os satélites ou encontrar o calor perdido – Tudo ia bem até 2003, quando uma frota de robôs submarinos e boias automáticas foi lançada ao mar para coletar dados atmosféricos em um nível nunca antes alcançado.
Em vez de reforçar os modelos climáticos que apontam para o aquecimento global, os novos sensores mostraram uma redução na taxa de aquecimento oceânico, ainda que o desequilíbrio medido pelos satélites continue apontando que o balanço líquido de energia da Terra está aumentando.
Os robôs submarinos da missão Argo também ajudaram a verificar que as mudanças na circulação oceânica não estão ocorrendo como os cientistas previam.
Para resolver o mistério, os cientistas propõem duas medidas: aumentar a capacidade dos robôs submarinos, lançando equipamentos mais modernos que possam atingir profundidades entre 1.000 e 2.000 metros, onde o calor pode estar se acumulando, e o desenvolvimento de novas formas de calibrar os sensores dos satélites, uma forma de garantir que suas medições são precisas.  

Fonte: Site Inovação Tecnológica

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